Carlos Alexandre – CNA7
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Alto Nhamundá (AM) - O dia 19 de abril começou cedo para os indígenas do povo Hexkaryana. Às 4h da manhã já estavam praticando corrida no campo da aldeia Kassawa, região do Alto Nhamundá, município de Nhamundá no interior do Amazonas. No Maiá, barracão construído com esteios, palha ubim e amarrado com cipó, é a casa de celebrações, festas e reuniões, no lugar a programação também começou cedo. De um lado homens com o rosto pintando, cocar e liderados pelo Cacique geral, Zaqueu Feya. Do outro, mulheres com o corpo pintando, com saias confeccionadas com palha de buriti, algumas delas carregando xamaxe, uma espécie de cesto, lideradas pela primeira dama da aldeia, Luciana Warámso.
Pássaro é representando na dança do Jacamim no centro do Maiá.
No centro do Maiá, a resistência é demonstrada nas várias danças tradicionais do povo Hexkaryana como Jacami, Tracajá, Veado Roxo, Arco e Flecha e Txeryekra. As danças fazem parte do cotidiano desses povos originários e são sempre realizadas em época comemorativas, e também durante debates, assembleias como forma de reivindicações e manifestações. Neste dia 19 de abril, no coração da floresta amazônica, o momento não é apenas de celebração, mas de fazer ecoar o grito de pedido de respeito aos povos originários e de resistência indígena.
Mulheres indígenas de todas as idades na dança do dia dos povos indígenas
O cacique Zaqueu Feya é autoridade máxima do povo Hexkaryana, atuando em treze aldeias. Para ele, as lutas são diárias para que os direitos não sejam esquecidos. “Hoje é dia de resistência e o povo Hexkaryana está aqui forte e firme buscando nosso direito à saúde, à educação, ao território e à demarcação, porque nós somos os verdadeiros donos dessa terra”, ratifica.
Zaqueu Feya é o Cacique geral do povo indígena Hexkariana
Povo Hexkaryana e a equipe do DSEI na frente do Maiá. Fotos: Carlos Alexandre
Povos indígenas
Erroneamente, algumas missões religiosas passaram a generalizar os povos indígenas da região Nhamundá/Mapuera no Alto Nhamundá como Hexkaryana, mas na verdade pelo menos treze povos habitam o lugar. O técnico de enfermagem e assessor do Distrito Sanitário Especial Indígena, Miguel Mayawakna, nasceu na aldeia Kassawa e conhece todos os povos. “Além dos Hexkaryana estão os povos Karahawyana, Kamarayana, Kaxuyana, Tuna Yana, Katxuyana, Yukyará Yana, Txarumayna, Xowyana, Wai-wai, Katyena Yana, Okoymoyana, Parákwoto Yana”, assegurou.
Jogos tradicionais
O clima na comunidade indígena é de Copa e os preparativos estão no ritmo olímpico. Não pense que a aldeia está de olho na Copa do mundo de Futebol, nada disso, o clima é de expectativa para a quarta edição dos Jogos Tradicionais do Povo Hexkaryana. O professor Elizeu Warafa é um dos organizadores da competição e destaca que no dia dos povos indígenas não poderiam deixar de realizar as atividades. “Além de manter nossa tradição, queremos também enfrentar outros povos durante os jogos e hoje estamos fazendo a seleção das meninas e dos homens que irão participar dos jogos no período de 18 a 24 de julho”, informou.
Elizeu Warafa afirma que a comunidade vive a expectativa para os jogos.
A competição terá modalidades como arco e flecha, atletismo, canoagem, futebol e outras atividades nos naipes masculinos e femininos. Participarão os povos do Amazonas, Pará e Roraima. Para Edilson Xakanwa, que também coordena a programação, será o maior evento esportivo já realizado em uma comunidade indígena. Alojamentos para receber os parentes serão construídos. Eles chegarão por dentro da mata tendo que caminhar durante dias para os jogos. A Aldeia Kassawa é considerada grade para o seu povo. A área é formada pelos bairros Centro, Kassawa, Kamena, Jacamim, Wahtaku, bairro Novo, Buriti e Éden. A organização na aldeia é exemplar e eles se orgulham de ter controle sobre tudo e ainda conseguem evitar a entrada de bebida alcoólica e outros tipos de drogas licitas e ilícitas.
No campo de futebol homens e mulheres se revezaram praticando arco e flecha. Atividades tradicionais como canoagem fazem parte das modalidades como forma de manter viva a tradição dos ancestrais indígenas.
O coordenador do DSEI, Átila Oliveira é recebido na comunidade indígena pelas lideranças da aldeia.
Apoio do DSEI
Pela primeira vez um coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI/Parintins) acompanha uma programação completa organizada pelos indígenas da Aldeia Kassawa. O coordenador Átila Oliveira afirmou que sua equipe não apenas ouviu as demandas, conversou com as lideranças, mas principalmente fez uma experimentação cultural, pois além da dança entenderam um pouco mais sobre a culinária e os costumes dos Hexkaryana. “Isso pra gente nos enrique muito, porque fazemos saúde pra eles. Mas, a partir do momento que convivemos com eles, entendemos o conceito de fazer saúde com eles e não para eles somente”, ressalta o coordenador.
A programação do dia 19 foi encerrada com uma partida de futebol com o time do Kassawa enfrentando o time do DSei/ Parintins e o empate em 2 a 2.
*O jornalista Carlos Alexandre viajou até a região do Alto Nhamundá a convite do coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena de Parintins.
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